domingo, setembro 03, 2006

Des-Equilíbrio

Daft Punk está tocando na minha casa. Aliás, na casa do meu melhor amigo, e eu, um tanto quanto entediado, assisto a tudo do sofá mofado.
Os gatos soltavam seus tufos de pêlos enquanto o brigadeiro de panela enchia a casa com seu cheiro de felicidade. A noite era de sábado mas não havia nada mais do que isso a se esperar. A vida era a mesma de sempre e seguia seu rumo como de costume. Até que alguém dá o play e aparece na tela da tv um nome bastante estranho em caixa alta: KOYAANISQATSI.

- O que ser isso? - perguntei eu.
- Algo como o mundo em desequilíbrio ou coisa do tipo. Cala a boca e assista! - responderam sutilmente.

Calei a boca e assisti. E, em assistindo, fiquei pasmo. E me impressionei. E fiquei indignado. E me contorci na cadeira de balanço. E senti repulsa. E tive vertigem e fiquei tonto e percebi. E mais um monte de coisas simultâneas que esmurravam a minha cara a cada quadro.
Não parei, mas pensei em como uma noite aparentemente tão simples foi responsável por abrigar um momento dos mais importantes para qualquer pessoa. O momento em que se descobre uma obra de arte capaz de mudar sua vida. Ou, pelo menos, sua maneira de ver o mundo.
Koyaanisqatsi é um documento histórico da humanidade. Uma profusão de estímulos pensantes, um fluxo ininterrupto de sensações. É uma descoberta que sempre esteve debaixo dos nossos narizes. Uma lição!!
O ritmo do documentário (ainda que esse rótulo soe castrador para a produção) desperta no espectador a vontade de sair correndo, de acelerar a vida, de ver o mundo de cima, de lamentar ter nascido. É uma obra-prima que você não pode morrer antes de ter se dado ao prazer e ao desconforto de assistir. É impossível passar imune ao fluxo de imagens que confrontam a vida e a morte, tendo o homem como árbitro. Ou melhor, como peça principal de ambos os lados.
Koyaanisqatsi é surpreendente do início ao fim. Um primor ideológico e técnico. É um filme que bifurca boa parte dos seus pensamentos sem proferir uma única palavra. A melhor aliança entre imagem e som que eu já presenciei numa tela.
Mas, antes que isso vire uma resenha muito da mal feita, quero que sirva de sugestão o que foi escrito. Sugestão não, obrigação, com rima e tudo. E assim que começarem a subir os créditos, vá o mais rápido possível procurar os outros dois capítulos da trilogia Qatsi (Powaqqatsi e Naqoyqatsi). Mas cuidado pra não ter um infarto com o primeiro e morrer sem ter o privilégio de desfrutar as partes do todo. Que todo!
É escrevendo isso que, depois de alguns longos minutos para retomar a consciência, a noite que era dada por perdida e foi salva, termina. Ou melhor, foi prolongada; não sei se conseguirei dormir sossegado depois de Koyaanisqatsi.

KOYAANISQATSI - Produzido e dirigido por Godfrey Reggio
Para maiores informações: http://www.koyaanisqatsi.com

2 comentários:

Anônimo disse...

.

Porque se há uma coisa que me deixa feliz é o entusiasmo alheio por algo realmente válido.

Uma ligação contando ainda com a voz registrando o êxtase de ter assistido é bem válida.

E agora tô aqui me coçando pra assistir. O primeiro, segundo, terceiro.

Pra conversar depois, pois se há alguém com quem gosto de falar pelos cotovelos é com sua pessoa.

Não esquecendo a canção clichê: "Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite". Mesmo despretenciosamente.

Beijo, Xúbz!
.

Anônimo disse...

A CAIXA ALTA TEM PODER!!!
HUA HUA HAU HUA HUA HUA HUAAAA!
[Em tom sinistro]

N sabia q c tinha gostado tanto assim do filme. Nem fez mtos comentarios comigo...

Onde vamos baixar os outros dois?