quarta-feira, novembro 29, 2006

Insônia


Esse tal de relógio biológico ainda vai acabar me levando à loucura, ou, quem sabe, adiante. Se seu corpo também tem problemas com o tique-taque silencioso do tempo, se você passa horas se revirando no colchão, se nunca acha a posição adequada no travesseiro, se já chegou nos bilhões de carneirinhos e não adormeceu, escreva poemas prosaicos e despretensiosos como o segue abaixo. Às vezes funciona como sonífero.


Insônia

Às cinco e pouco da manhã
Comemoro a minha conquista
O meu anseio distante
O sono que teima em chegar.

Escuto o primeiro canto
Pardais nos telhados, tantos.
O sol tímido se levanta
Hora em que, enfim, me deito.

Ó, senhora do relógio
Abdico de seus falsos encantos
Abandone-me sem arrependimento
Ó, dona das minhas pálpebras.

Finalizo-me sem mais disposição.
Entrego-me ao doce cansaço.
Celebro com o corpo estático
Mais uma noite de olhos inquietos.

*Poema escrito às cinco e quinze da manhã, depois de uma noite em claro, acompanhado por meus devaneios, um ventilador na potência máxima, alguns CD's de música New Age que não surtiram efeito, "Planeta dos Macacos" passando no Corujão e alguns filmes pornôs de baixa qualidade.

Imagem: Ellen Weinstein .... http://www.clandestina.com

Sonido: Depois de tocar Enya, Kitaro e outros sussurros e orquestrações calmas, quem me fez dar descanso às palpebras foi o Ed Harcourt e sua singela "Bittersweetheart".

Não sei se me saro ou se cultivo minhas insônias. Vez por outras obtenho resultados produtivos delas. Santa enfermidade!!!


Queda D'água

Ainda bem que choveu hoje. Uma chuvinha fina, uma borrifada do céu, só pra todo pôr todo mundo porta adentro. Pra varrer das pessoas os seus acessórios desnecessários, seus apêndices sociais é que choveu. A água como veneno para as vaidades. Choveu hoje para separar todo mundo e isolar cada um em seus lugares, em suas caixas individuais de certezas mortas e violência potencial. Para cessar o verbo choveu hoje. Os ânimos escorreram pelo ralo, junto com a alegria vaga, os cabelos desprendidos do crânio e as baratas voadoras. As infantilidades, escaldadas, e o cansaço de um dia exageradamente curto esconderam-se embaixo do toldo. Correram todos, restando a chuva e seu sussurro de paz ou de inquietação. Vi as impurezas, velozes, descerem misturadas à turva espuma da ira, dura, em sua capa de chuva. Da minha janela vejo sinto ouço a água jorrar de mim. E ainda bem que choveu hoje e choverá sempre que for preciso.

Imagem: Jeremy Forson .... http://www.clandestina.com

Sonido: Knives Out - Radiohead

*It's not on purpose.



segunda-feira, novembro 06, 2006

Mil em Um

"Só a dor limpinha da classe média sai nos jornais." Xico Sá

http://ponteaereasp.nominimo.com.br

Isso resume o atual contexto da grande imprensa brasileira e, porque não dizer, internacional. É preciso mais sensibilidade para o dia-a-dia palpável do que para as "notícias" do Jornal Nacional.

Xico Sá, mesmo escrevendo sobre São Paulo, a muitos quilômetros daqui, consegue me ensinar o que é o verdadeiro espírito jornalístico, ainda que sejam necessários lembretes diários e nós de fita nos dedos.
O disfarce prosaico de suas frases esconde grandes verdades.

Xico é meu professor, meu amigo de conversa em mesa de bar, meu colunista favorito. Uma pessoa de quem se pode sentir orgulho.


* Tá reclamando dos atrasos nos vôos?! Tá achando ruim?!
Realmente muito chato, né?!
Não se preocupa; pega um pinga-pinga da Jardinense ao meio dia, de Natal para Jardim do Seridó.

Melhor que qualquer primeira-classe da TAM...