domingo, dezembro 31, 2006

Feliz 2007!

Em 2006 Crash ganhou o Oscar de melhor filme, Saddam foi enforcado sem medo no rosto, o Papa visitou mesquitas, os americanos finalmente se tocaram do fiasco "Guerra do Iraque", a Globo tentou fazer campanha de Alckmin, eu virei um estudante metido à besta de jornalismo, nossas maiores cidades ficaram sob o poder dos bandidos, os brasileiros atingiram a maior média de permanência na internet, o mundo esquentou mais uns dois ou três graus, Rolling Stones fez um show em Copacabana e eu não estava lá, Daft Punk não tocou na minha casa e mais uma porrada de coisas. A América Latina já não é mais a mesma (no bom e no mau sentido), Lula assume o segundo mandato amanhã, inventaram camisinha em spray, descobri um barzinho que vende cerveja geladíssima a 2,00 reais, palestinos e israelenses continuam se matando, o muro que separa os States do México mariachi continua de pé, o Brasil perdeu a copa, arranjei um "emprego".

Antes que 2006 termine enquanto eu enumero acontecimentos que tem ou não a ver com o seu dia-a-dia, desça logo a barra de rolagem e faça um pedido:



Que 2007 seja uma metradalhora aleatória de fatos, bons ou ruins, e que a vida seja mais fácil de levar com a barriga e com os braços. Agora me passa o champanhe aí que eu tô com sede!


domingo, dezembro 24, 2006

Um Feliz Natal a Todos!!!

Desejar Feliz Natal nos fins de dezembro é tão clichê quanto dar bom dia às sete, oito horas da matina à senhora no ônibus, ao seu chefe no trabalho, ao vizinho da rua. Soa mais clichê ainda, uma vez que este vos fala a tempos anda meio desiludido com "essa data tão especial". Desejar "Feliz Natal" é quase uma obrigação cívica sazonal enfeitada de neve, pinheiros, pisca-piscas e sininhos tilintando. Mas é necessário, então, mais uma vez Feliz Natal, Bom Dia, Obrigado, Com Licença, A Benção... Tudo bem, antes que me chamem de revoltado, esse post é pra dizer que, apesar de não defender o Natal, ele ainda faz muita gente, inclusive eu, parar pra refletir um pouco. E, enquanto aumentam os suicídios, a depressão, a violência psicológica, os Papais Noéis descolam seu décimo terceiro e as lojas de departamentos se empanturram de dinheiro, nós comemos peru, ganhamos presente de amigos secretos, aplaudimos a chegada de papai noel.
Antes que eu me enrole demais, quero dizer que esse post é pra botar nêgo pra pensar e tentar clarear na cabeça que no Oriente Médio, lá onde Jesus nasceu, não tem pinheiro nem neve, que muitas crianças da África não sabem o que é um peru e que Papai Noel e suas renas já deviam ter saído de moda. O post é pra dizer que, já que a gente não pára pra pensar nisso com frequência durante o ano, que pelo menos em dezembro a gente sente numa caixa de presente embaixo da árvore, abaixe o CD da Simone no som e pense mais no mundo e na gente.

E que o Natal, além disso, sirva como uma desculpa para os mais tímidos (meu caso) demonstrarem seus sentimentos pelos mais próximos.
A todos, que tenham uma boa reflexão, uma emanação de energias positivas, uma boa ceia pra quem é de ceia, uma boa missa pra quem é de missa, um bom presente pra quem é de presente e um abraço e beijo sincero em quem merece!

Feliz Natal (de novo, hunf!)!!!!!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Clara

Na cama, Clara escrevia cartas de amor a ninguém, a todo mundo. Apertava contra o peito palavras bonitas a serem ditas a amores hipotéticos. Preenchia o corpo com abraços apertados de vultos ainda sem rosto definido, homens e mulheres que lhe fariam sentir bem, se sentir amada. Clara construía chalés de inverno, fumaça de lareira saindo pela chaminé, arrumava-se para jantares em família. Sentava defronte ao mar em agradáveis tardes de domingo com seus ex, atuais, futuros amantes. Carlos, Zé, Marta, Ari, Aline, Maurício, Flávio, Margot, Zélia, Catarine, Rodolfo, Clara, Clara, Clara. Sonhava com nomes, idades, portes, vozes ao ouvido, cheiros, gostos, tatos, atitudes. Esfregava detalhes sórdidos na boca, nos seios, na vulva. Clara e seus amantes imaginários rolavam na cama, na grama, na chuva. Ela adorava escrever cartas de amor e guardá-las numa pequena caixinha azulada, como o céu dos dias que se passavam na sua cabeça. Um dia, Clara dizimou paixões, estraçalhou corações, desviou olhares, atenções, jogou roupas alheias janela abaixo. Quebrou pratos, arranhou discos, deu porrada, chorou, mandou tudo à merda, lançou perdigotos, esporros maldições. Clara não era feliz e deixou isso bem claro para cada um dos destinatários das suas cartas. Para cada um comunicou, do modo com que cada um não esperava ser tratado, que havia cansado dos beijos e abraços e juras e trepadas e futuros filhos e contas a pagar e traições e mais o escambau. Seus amantes nada disseram , nem uma única palavra que a fizesse se sentir melhor ou a deixasse mais puta.
Hoje o mar acordou agitado e mais poluído que o normal. O corpo de Clara, branco, pálido, boiando sem vida na superfície. E garrafas e mais garrafas continham cartas de amor a amantes hipotéticos. E boiavam, ah, como boiavam, cada uma seguindo um destino diferente, espumante, vago.

Imagem: Ken Wong .... http://www.clandestina.com

Sonido: I Don't Love Anyone - Belle & Sebastian

Alguém aí sabe onde encontro "punch" pra vender. Mas tem que ser a um precinho camarada. É impressionante como me enrolo com as transições e os finais. Masss, espero que vocês tenham gostado e que Clara não tenha morrido em vão.
Criei um carinho por este miniconto. Tem muito de mim nele. Meu lado "unloved". É isso aí!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

It Isn't.

Tudo está suspenso, tudo está claro, agora tudo respira. A superfície dá as caras. Tudo está no topo, tudo faz sentido, tudo compilado, volume único, tudo muito bem encadernado. Acordado, os olhos, arregalados, olham mas nada vêem. Tudo está evidente, tudo na sua mente, facilmente, vem e se esvai. Tudo é muito mais, tudo não é os suficiente, tudo dói, tudo perturba. A confusão turva a clareza de antes, um suspiro, uma inquietação sem fim. Tudo grita, se esparrama, lambuza os miolos. Tudo fede, tudo é ânsia de vômito, é esgoto imundo e doentio. Tudo é utopia, tudo são flores, tudo são cores, tudo é fluido, tudo é vôo de borboleta no jardim. Tuuuudo, tudo, tudo. A noite acaba, o dia, sonolento, acorda a vida que se pôs a roncar. A vida, a noite, o sono, os talheres na mesa, o café esfriando na xícara. Tudo é motivo, tudo é castigo, tudo jazigo. Merda, tudo vira bosta, tudo desintegra, desaparece, vai-se embora. Tudo cansa, no fim, tudo alcança. Cessa o sol, cessa a música, cesa o motor, o movimento das roupas balançando no varal. A água cai sem cessar e o negro de tudo protege do temporal. Tudo é navalha, tudo é pedra, mineral, abissal. Tudo é sombrio, tudo é vazio, tudo é nada.

Imagem: Elliott Golden .... http://www.clandestina.com

Sonido: It's No Good - Depeche Mode (Speedy J Remix)


terça-feira, dezembro 05, 2006

- Ela tá te sacaneando!

- Sério?!
- Sério, cara. Cê acha que eu ia brincar com essas coisas?
Calam-se. Passam-se alguns segundos.
- Cê só pode tá brincando...
- Olha, cê acredita se quiser. Nunca falei tão sério...
- Você jura que é verdade?!
- Juro, porra! É sério!
Calam-se. Bebem a cerveja a goles grandes.
- Puta que o pariu! Que merda!
- Ha ha ha... Neguinho acredita em tudo.
- Ah, vai se foder, seu filho da puta!
Levanta-se, desfere três bons murros na cara do outro.
- Vai zoar a mãe, viado!
Toma o resto da cerveja e sai do bar, a tempo ainda de ouvir do ensanguentado:
- Seu bosta!! Precisava disso, hã?! Agora se foda sozinho. Tudo o que eu te disse foi verdade, idiota! Não sabe nem brincar, esse estardalhaço por causa de uma piada. Vai, vai embora. Se manda!
Depois que o agressor deixa o lugar, ouve-se da boca ensanguentada, faltando um dente:
- Corno maaaanso!

Chega em casa e sente os dedos da mão doerem.
-Puta merda! Aquele viado não sabe nem apanhar.
Lava o sangue da mão. Encaminha-se para o quarto. Boceja. Pára no corredor. Ouve coisas . Se aproxima da porta.
- Puta que o pariu! - diz para si mesmo.
Encontra a outra montada, beijando, lambendo, cavalgando o outro. Entra no quarto. Olha os dois com a vista dura. Fecha a mão e, com violência, desfere uma dezena de bofetadas. Saca a arma que estava no casaco.
- Toma o que tu merece, sua puta.
O sangue espirra na cama, nas paredes, no rosto do outro. O cano ainda quente encosta na testa do infeliz, nu em pêlo. Dois disparos. O quarto avermelha-se. Guarda a arma no bolso do casaco, agora sujo de miolos.
- Caralho! A vadia lavou essa porra não faz nem três dias!

Volta para a cozinha. Acende um cigarro. Chora calado. Joga o casaco sujo no chão. Abre e fecha a mão.
- Bem que aquele merda me avisou...
Os dedos só não doem mais que a consciência. E a cabeça, adornada, pesa como nunca.



Imagem: Motomichi Nakamura .... http://www.clandestina.com

Sonido: Womam - Wolfmother

Tô aprendendo a ser direto. Mas me falta punch! Um dia eu chego lá. Rubem Fonseca que me aguarde, hehehe...