terça-feira, fevereiro 27, 2007

Texto dos Outros II

Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!

[Encantação pelo Riso - Khlébnikov-Campos]

Gostei desse camarada. Rubem Fonseca sabe o que lê.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Realizar O Futuro É Agora.

Será legal quando as pessoas conseguirem atravessar a superfície e me entender mais profundo. Será bom quando a amizade voltar a ser mais nobre que esse apego antigo que distancia, distancia. O trabalho, o empenho, existirá, resistirá aos olhos cansados. Será maravilhoso quando tudo terminar em sorriso grave, em abraço, aperto de mão, beijo. Será ótimo quando cada um souber que seu lugar é em si mesmo e que o inferno são os outros. Bom quando perceberem que a influência obviamente existe, mas as atitudes ainda são regidas pelo livre-arbítrio. Todos loucos, como eu, como nós, será lindo. Um mundo, umas pessoas e todo o sentimento que há, pra viver aleatoriamente. Será bom, eu sei que será. Está sendo. Foi.

Sonido: Imunização Racional - Tim Maia

De Cima.

Eu sou aquele que vai andando, chutando latas pela avenida escurecendo agora, seis e pouco do dia, da noite. O sorriso escondido por camadas de frio e pensamentos incomuns, viagens incomuns. Eu sou aquele que você olha de longe, da sua janela ali no segundo andar, ali naquela avenida agora escurecendo. Eu sou o garoto mistério, noves fora, zero a zero, "queria conhecer você", diz ela. Aquele que olha pra cima agora sou eu, estupefato, olho no infinito do teu quarto, elevado, "desce". Do meu lado agora, seis e pouco da noite, somos eu ela, desconhecidos até o fim daquela rua, chutando latas, remoendo o asfalto, auto do que há por vir. Em vão?! Não. Ela é aquela garota que me olha todo dia, toda noite do alto daquela sua janela, vaso de flor, fita amarela, no cabelo a luz do pôr-do-sol. Eu sou aquele errante ponto de interrogação, passista passante, ermitão, meus passos no preto reluzente do asfalto, seis e pouco, diariamente.
Somos aqueles que conversam, que flertam, que têm nos olhos o brilho quase escurecendo do dia, da noite, do sonho acordando. Somos o novo, somos passo pro eterno, quase lá, chutando latas ali naquela avenida de sol e chuva.

- Você vem comigo?!
- Quem é você?!
- Eu só tenho essa garrafa e um doce no bolso do casaco.
- Fale a palavra.
- Pegue na minha mão.

Vamos logo. Amanhã, quase seis e meia do dia, da noite, chutando latas avenida abaixo serão vistos escurecendo agora, clareando as vistas.



*Ao Recife. Baseado em canção do Mopho.
Imagem: Alina Andrei .... http:/www.oureyes.net

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Texto dos Outros.

Certo dia, dentro de uma caixa escura, sentiram muito medo e prometeram que ficariam sempre juntos, para cuidar um do outro. Desde então, nunca mais deixaram de ser amigos. Nunca mais se separaram. Andaram por ruas e ruas, cidades e montanhas; conheceram a textura das pedras, das poças e folhas. Juntos enfrentaram tudo (até o cocô do cãozinho) e brincaram de roda na máquina de lavar...
Quanto mais velhos ficavam, mais conheciam os remendos do outro. E quanto mais conheciam, mais se soltavam. Soltaram a palmilha, o bico e a sola. Abriram fendas para entrar a água da chuva. Até que voaram, voaram tão alto... Presos no fio, de cadarços dados, brincavam de balanço. Rodavam lentos, um de cada vez, sem acreditar nas belezas do mundo. As belezas que só agora, como sapatos do vento, conseguiam enxergar...

[Presos no fio, calçados brincar de balançar - Rodrigo Sérvulo]

Dedicado a Denise Vilar, que me "iluminou" esse singelo texto. E a Homenzinho por me deixar publicá-lo.


segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Sem cela.

O fato é que, respeitadas as devidas proporções, a partir de hoje e durante as semanas que se seguem eu tenho que obedecer a um toque de recolher. Sentinelas me vigiam. Tenho agora supervisores, analistas, consultores sobre minha índole. Tenho que seguir normas, respeitar padrões, balizar minhas atitudes. Amordaçar-me, calar-me como de costume, com um pouco mais de intensidade e afinco. Tenho que ser modelo de ser humano. E serei, custe o esforço que custar.

Só não sei até quando...


*Estranhamente, sinto que vou acabar gostando.