domingo, março 25, 2007

Canto do Olho

Olhou-me no fundo dos olhos. Castanhos. Remelas no canto. Cama graaande, preguiça maior. Na vitrola, Água de Beber. Olhou-me com esquiva devoção. Um olhar acastanhado de medo. Também tenho medo, eu disse. Companheiros, mãos atadas contra o futuro. Ou a favor deste que agora nos preocupa. Tudo é dúvida, espera.
O futuro a mim pertence. Olhou-me continuamente, esperando resposta. Uma resposta castanha que dou todos os dias é o que eu queria tornar garantia. Meu olhar é garantia. No fundo dos olhos, que seja eterno enquanto dure. "Vinícius é que sabia"!

Naquela cama graaande, preguiça maior, hei de passar meus dias. Até que o brilho do olhar vire estrela, que brilhe como o castanho da vista .


sexta-feira, março 16, 2007

Descobri que abrigo tribos, vilas, cidades em mim. São péssimos inquilinos esses do meu terreno-corpo. Pagam-me o aluguel com constrangimento e frustração. Percebi tarde, muito tarde a presença deles, quando dei por mim havia sido grafado, em letras garrafais, com caligrafia-coceira: "Você Não Tem Nível!"

Haja amor, confiança e paciência pra aguentar a ressaca moral desse aniversário mal comemorado!
Estraguei a festa. Eu sou um chato!


quinta-feira, março 01, 2007

O "Escrevedor" de Cartas.

Ah, moço. Eu queria que você escrevesse que eu gosto muito dele. Eu amo ele demais. Quando ele sorri o mundo vira um, uma casa da avó. Ele, um molequinho lindo, esperando, na beira do forno, o biscoito ficar pronto. Quando ele sorri eu rio junto, sempre. Ele tem uns silêncios longos que me dizem tanta coisa, tanta coisa. Uns olhinhos assim miúdos em que cabem um mar sem fim. Eu sei na hora o que ele quer. Eu sempre soube. Adivinho. De pirraça é que, às vezes, não faço o que ele quer, só de pirraça. E enfrento mais silêncios graves, a boca num muxoxo surdo, o corpo todo se contendo. Mas eu me derreto, moço, é no abraço dele, aqueles dois brações cabeludos que me guardam inteirinha. Quando a boca quer me arrancar um pedaço, a barba dele roçando meu cangote. Aí eu viro os olhos, sambo pela casa inteira. Você gosta de samba, moço? Ele adora. Aprendi a gostar com ele, a dar valor. Sambo direto pra ele. Ele é que não gosta muito de sambar pra mim, diz que não sabe. Ah, num dia assim como esse, chovendo pra dedéu eu queria era mandar tudo às favas e ir deitar ao lado dele. Meu pretinho. Minha vida é com ele, moço, pode escrever aí. Quero passar o resto do tempo vendo aquela cara sorrir e chorar pra mim. Ele é meu homem. É meu. É.
E eu já não sei mais o que é que eu faço pra matar essa saudade danada. Escreve aí pra ele voltar.
Pede pra ele voltar, moço. Bota assim no final: "Eu te amo, assinado Maria". E coloca essa foto aqui, sim, essa que eu tô dando a língua, hahaha. Ele diz que gosta. Ai, ai.


Obrigado,moço. Quanto é?! Dois? Tá aqui, ó. Brigado.