Ah, esse personagem há de morrer no próximo ato. Ele, com essa cara sisuda, esse ar esnobe, superior, estraga o clima de comédia. Hei de matá-lo cruelmente na primeira oportunidade. Quero poças e poças de sangue cenográfico. Sangue desse cara chato. Quero pra ele uma facada, punhalada, uma morte lenta e sofrida. Um "gran finale", seus segredos revelados num rubro último suspiro. Quero esse crápula finado, em seu leito um epitáfio mal grafado. Seus dias contados, seu olhar horrorizado.
Ah, como há de ser engraçado. Quando fecharem-se as cortinas, serei ovacionado. O autor aqui sou eu, mato quem eu quiser nessa cena de teatro.
Ainda que a morte me leve um pedaço, o papel que eu faço, os destinos que traço. Nessa comédia de humor negro, pinto o nariz com sangue, sou palhaço.
Aplauso e assassinato, holofote, morte, espetáculo.
Sonido: Les Professionnels - Air
Imagem: Andreas Gefe .... http://www.clandestina.com