Eu queria ter ido. Seguir aquele garoto onde quer que fosse. Andar pelo escuro no asfalto frio. Queria segurar sua mão macia de rapaz desocupado. Ouvia o som do seu calçado ao arrastar. Ouvia o eco dos latidos furiosos. E eu queria tê-lo seguido. Eu só queria ter ido.
Permaneço ali estático por horas. Ela fitava o caminho dele. O andar torto por entre seus cílios úmidos. Guarda consigo suas palavras. E eu, que queria ter ido, espero pelo fim do silêncio nela preso.
O outro segue as costumeiras vias desertas. Pára, senta, respira a vida que ainda o resta. Eu e ela, estáticos, fitávamos ainda o seu caminho. Ele olha para trás e os enxerga no portão. Ela o chama para junto de si. Eu os sigo e me encontro ali em definitivo.
Para Denise
*Esse é dos primórdios. Achei agora a pouco revirando os e-mails velhos. Passaram-se anos, acontecimentos importantes, perdas, ganhos e mudanças, muitas mudanças. Mas, mesmo assim, o texto me traz muito clara a sensação que tive no dia em que o escrevi. Talvez só tenha significado pra mim, mas achei importante publicá-lo.