domingo, outubro 25, 2009

A metamorfose de Otto



Permeado por um caldeirão de referências e uma aparente melancolia, o novo disco do Otto expõe logo nas primeiras audições uma sonoridade a que os fãs do irrequieto pernambucano estão pouco acostumados. Lançado em setembro nos Estados Unidos e ainda sem previsão de lançamento no Brasil, “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” deixa claro que o artista vive uma fase de mudanças.
Desligado da gravadora Trama desde 2006, Otto produziu e gravou o disco em esquema independente, com a grana que ganhou como apresentador de um reality show na MTV e o apoio de amigos próximos. Isso deixou o artista mais à vontade, com mais tempo e liberdade para compor. Finalizado no ano passado, só faltava ao álbum uma plataforma eficaz de distribuição, que foi atendida pelo selo nova-iorquino Nublu Records.
O título do álbum foi tirado do livro “A Metamorfose”, de Kafka, e veio a calhar com o momento de mudanças pessoais e na sonoridade do artista. Nas 10 faixas do disco é possível perceber que durante o jejum de 5 anos sem gravar, Otto desacelerou o ritmo das novas composições, trocando o baticum eletrônico por um som mais orgânico, com melodias elaboradas, elementos regionalistas e da música latina.
“Certa Manhã…” traz regravações de clássicos obscuros da MPB, como “Lágrimas Negras” de Caetano Veloso e “Naquela Mesa”, imortalizada na voz de Nelson Gonçalves. Esta última se junta a “Pra Ser Só Minha Mulher” reafirmando a vertente brega da música de Otto, da qual, particularmente, gosto muito. O disco conta com a classuda participação de Céu, em o “O Leite”, da mexicana Julieta Venegas, na supracitada “Lágrimas Negras” e “Saudade” e com os versos de Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, em “Meu Mundo”.
As letras estão mais claras, carregadas de emoção e melancolia (e perderam um pouco do alto teor de nonsense, típico nas composições de Otto). É possível notar também uma melhora considerável na voz do cantor, em canções como ”6 Minutos” e “Filha”. O álbum traz ainda a virtuose do guitar men, Catatau, do Cidadão Instigado, e Pupillo, da Nação Zumbi, ambos remanescentes da Jambroband e que fazem de cada faixa uma surpresa para os ouvidos.
Os elementos eletrônicos não foram deixados de fora, mas perderam espaço para violinos, saxofones e arranjos orquestrados. A percussão também foi muito bem explorada em músicas como “Saudade”, que tem uma levada ritmada pela cumbia, e “Janaína”, que homenageia Iemanjá, resgatando a sonoridade afro-brasileira que é marca de Otto. Importante ressaltar o espetáculo de Catatau na guitarra, o que por si só já salva o disco.
“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é mais um dos excelentes trabalhos que incrementam a safra de lançamentos de artistas independentes brasileiros no ano 2009, como o “Vagarosa” da Céu e o “Sem Nostalgia”, do Lucas Santtana. Vale a pena correr atrás do disco na internet (uma vez que esse ainda não está disponível no Brasil), dedicar alguns minutos à nova jornada sonora e pessoal do mangueboy.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Saudade de escrever aqui....