Fazia muito tempo que eu não escrevia aqui. Mais tempo ainda que eu não fazia um post "diarinho". Mas essa semana meu comparsa marginal Ramon Ribeiro me passou um e-mail que chamou a atenção. Reacendeu a vontade de escrever, livre de regras jornalísticas, leads, formatos, abordagens X e Y. Trata-se de uma iniciativa do Museu da Pessoa (gostei do nome e da idéia), juntamente com o Center for Digital Storytelling que criaram o Dia Internacional de Histórias de Vida, esse ano em sua 2ª edição.
Apesar de propor um tema pré-estabelecido (no caso, "Jornada em busca de Justiça") e direcionar os participantes a destacar histórias de pessoas forçadas a sair de sua terra natal por causa de crises econômicas, guerras, degradação ambiental e repressão política, a celebração abre espaço para uma atividade que anda um pouco esquecida. A de enxergar além do óbvio, procurar a raiz, buscar a essência das pessoas comuns, cotidianas e, o mais interessante, contar as histórias que descobrimos. Histórias interessantes pra caralho que, à primeira vista a gente nunca imaginaria que pertencesse ao vigia-da-nossa-rua, ao ex-professor-universitário- que- virou-hippie, ao camelô-do-centro, à prima-bailarina, a senhora-que-pede-esmola-na-passarela e por aí vai. Personagens como o mecânico-do-bairro, o pescador-do-Potengi, a sanfoneira-cega, o fazedor-de-pipa, gente que a gente passa diante diariamente, sem perceber. Gente como a gente. Gente adjetivo, hifenizada, que existe aos bocados, que a gente costuma chamar de massa, tudo igual, a gente. Biografias no difícil território do cotidiano.
Dar importância, parar pra ouvir, sentar, escutar, sonhar, contar é o que propõe esse dia. Pode parecer uma coisa totalmente trivial (e é), mas me deixou excitado pra caralho.
Não é nenhuma novidade que personagens da vida real enriquecem matérias e fazem jornalistas ganhar prêmios, e, dizem as boas línguas, que esse é o futuro do jornalismo. HU-MA-NI-ZA-ÇÃO. Ótimo, beleza, palavra linda. Mas falta a nós, jornalistas, descer do patamar que a profissão nos confere, deixar o gravador (pense numa arma!) e o crachá de repórter de lado, e se deixar levar pelas histórias das pessoas, se envolver. Não se trata de fontes, declarações, mas de sentimentos, realidades lúdicas, paixões e sofrimentos que não devem exatamente ser usados pra vender jornal. É preciso esquecer do deadline, se fazer de casa, se tornar íntimo por vontade e não por necessidade. Foi nisso que pensei quando vi o anúncio do Dia Internacional de Histórias de Vida.
É piegas pra caralho, mas o olhar começou a ficar aguçado pra cenas bestas do dia-a-dia. Nelas cabem tanto significado. E eu espero que até dia 16, e depois e depois, muitos encontros com histórias bacanas ocorram. Pra mim e pra quem se interessar. É bom pra cabeça, pro coração e não deixa o blog morrer, hehehe. Falando nisso, a galera do Catorze tá querendo postar esses "perfis" no blog até dia 16. Quem quiser me mandar histórias pra publicar aqui, sintam-se à vontade, o espaço é de vocês. Até mais.