segunda-feira, dezembro 24, 2007

Boas Festas!

Quase dois meses sem postar e eu venho aqui só desejar um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo a quem ainda entra nessa joça e a quem não acessa também, porque não... Que a ressaca das festas não estrague o comecinho do ano e que em 2008 vocês consigam tudo de bom (e acessível) que almejam! Muita saúde, paz, alegria, dinheiro, sucesso. Ah, e amor pra quem é de se enrolar!
Por hora, eu prometo que em 2008 vou ser um bom garoto pra ver se ganho uns bons presentes de Papai Noel e vou tentar escrever aqui com certa regularidade, afinal de contas, blog é blog mas não vamos bagunçar!

Boas festas, feliz ceia ao lado da família e amigos e que o CD de Natal da Simone não soe tão sofrível aos seus ouvidos, meus caros!
Abraço pra todo mundo!


quinta-feira, outubro 25, 2007

Texto dos Outros III


" (...) Parece-me que, quando era mulher, zombava muito daqueles que me atribuíam idéias ponderadas, enquanto somente o momento me fazia tê-las, que procuravam razões onde eu tomara leis unicamente do capricho e que, por querer me aprofundar demais, nunca entravam em mim. Era verdadeira no tempo em que passava por falsa; acreditavam que eu era galante no instante em que era terna; era sensível e imaginavam que era indiferente. Quase sempre me atribuíam um caráter que não era o meu ou que acabava de deixar de sê-lo. As pessoas interessadas em me conhecer o máximo, com quem eu dissimulava o mínimo, às quais mesmo, levada por minha indiscrição natural ou pela violência dos meus ímpetos, eu revelava os segredos mais íntimos da minha vida ou os sentimentos mais verdadeiros do meu coração, não eram aquelas que mais acreditavam em mim ou que me compreendiam melhor; elas somente queriam me julgar segundo o plano que tinham feito, enganavam-se continuamente e acreditavam ter me conhecido bem, quando tinham me definido segundo a sua vontade. "

*Amanzei conta a Schah-Baham como se sentia quando o deus Brama quis que ele ocupasse o corpo de uma mulher.
Retirado do livro "O Sofá" de Crébillon Fils.

A alma feminina tem caminhos labirínticos.


terça-feira, outubro 16, 2007

Ando parado naquela música que me fez lembrar você, vidrado na frente da tevê. Esperando ligações, cartões postais, um e-mail que seja, seu coração no pombo-correio. Pra mim, só. Ando dormindo à luz dos nossos momentos, sua roupa no sofá, ensaboar seu corpo, sua alma, massagear seu ego com mãos fortes de amante, seu sorriso. O tempo não é mais meu amigo. A novela perdeu o sentido. A cama fica dura, a casa, vazia. O dia fica sem graça. Até a cachaça perde o efeito. 3 margueritas? Nenhuma. Ando calado por não ter muito o que falar, esses dias. Ando meio desligado, mas por outro lado. Eu ando pensando em mil e uma coisas pra te dizer no ouvido. Beijar seu rosto, sentir cheiros. Brincar nos seus cabelos enquanto você sonha. Ando um pouco dolorido, pois é, dessa saudade que não me deixa. Mas ando sempre com aquela música que me faz lembrar você. Aquela mesma de quando tivermos 64 anos. Paul é que sabia.

Volte um dia.


quinta-feira, agosto 23, 2007

Espuma.

Uma lufada de vento jogou areia em seus olhos. Pálidos como o mar daquela tarde. Estávamos os dois deitados na areia, despidos de julgamentos e roupas. Éramos parte daquela paisagem úmida, éramos pura natureza. A maré subia em nossas pernas e pequenos crustáceos exploravam nossos corpos. A água que fustigava aquele pedaço do mundo, que foi nosso por conquista, era a mesma que salgava as nossas peles, os nossos olhos, cabelos, que já não tinham mais serventia. Éramos almas, apenas almas, expelidas pouco a pouco daquela massa que costumávamos friccionar um contra o outro. A mesma massa que, com gosto, chamávamos de corpo e que processava os estímulos da vida. Éramos sólidos, liquefazendo-se para enfim evaporarmos, espectros de sonho. E a matéria, secundária, naquela hora se desfez. Desnecessária.
Éramos dois mortos, agora em foco, flutuantes naquela tarde de inverno, dois navios errantes naquela praia, no meio da ventania. E o dia parecia revoltado com nossa indiferença à sua força. O dia era apenas uma unidade de tempo. Tínhamos a eternidade pela frente. Nus, despidos de matéria, de tempo, de alento, de julgamento, morríamos por desejo de viver mais e melhor. Contemplar outros mares menos agitados e frios que aquele.
E as ondas, em desespero, faziam de nós alimento de suas severas vagas.


*Para você, por tudo o que somos e que ainda seremos.




segunda-feira, julho 09, 2007

Razões

Era dura a noite
Um ardor, uma dor, um prazer
Um ócio de criações vagas
E a lua bocejava no alto

Umas, palavras, outras, calavas
Idéias, escuras lembranças e o sono
Era o meio da noite dura
Clara, em que tudo aconteceu

E nada do que aconteceu
Agora vara este dia que nasce
Minha vista ficando alva
E, de ti, a alma se curva, turva.



*Descobri no olho do moço que o verde de antigamente é ardósia.

Nublada.

Não ria sempre das tentativas de fazê-la rir. Outros motivos, prosaicos, a tiravam do sério com mais frequência. Naquela época passava por muitos conflitos internos, não tivera tempo para digerir tudo. Eram muitas novidade para uma vida, até então, monótona. Escondia coisas da família, dos amigos, simulava atitudes, horários, paradeiros, era uma completa atriz. Vivia bem no meio daquilo tudo, admite.
Chorava escondida de vez em quando, mas era feliz. Não ria sempre das tentativas de fazê-la rir, mas era feliz, admite. Vivera coisas diferentes. Conheceu outro lado de si. Com o tempo foi cansando. O que era novo foi ficando cada vez mais velho, antigo. Nessa época já havia se afastado da família, os amigos todos longe. Cansou de atuar, de esconder, de mentir.
Voltou, feito filho(a) pródigo(a). Seu lar já não era o lar que deixara. Estranhou, ainda estranha, admite. Sofreu como sofreria qualquer um. Ou mais. Ou menos. Sofreu, relata.
Hoje, agora, pede pra eu não dizer em que condições me conheceu. Situações impublicáveis, admite, admito. Pede para eu desligar essa jeringonça eletrônica e voltar pra cama. De camisola lilás, sentada no meu colo, não ri das minhas tentativas de fazê-la rir. Diz que eu tiro sarro, avacalho, malho da desgraça alheia. E eu tentando escrever algo que lhe pareça simples, um texto curto, sem propósito, desleixado, admito. Algo prosaico.
Porque o melhor momento do dia é quando ela sorri, esquece o passado.


Sonido: Mourning Air - Portishead

Imagem: Greg Becker

domingo, maio 13, 2007

Papel Fraco.

Ah, esse personagem há de morrer no próximo ato. Ele, com essa cara sisuda, esse ar esnobe, superior, estraga o clima de comédia. Hei de matá-lo cruelmente na primeira oportunidade. Quero poças e poças de sangue cenográfico. Sangue desse cara chato. Quero pra ele uma facada, punhalada, uma morte lenta e sofrida. Um "gran finale", seus segredos revelados num rubro último suspiro. Quero esse crápula finado, em seu leito um epitáfio mal grafado. Seus dias contados, seu olhar horrorizado.
Ah, como há de ser engraçado. Quando fecharem-se as cortinas, serei ovacionado. O autor aqui sou eu, mato quem eu quiser nessa cena de teatro.
Ainda que a morte me leve um pedaço, o papel que eu faço, os destinos que traço. Nessa comédia de humor negro, pinto o nariz com sangue, sou palhaço.
Aplauso e assassinato, holofote, morte, espetáculo.

Sonido: Les Professionnels - Air

Imagem: Andreas Gefe .... http://www.clandestina.com

sexta-feira, maio 11, 2007

O Amor É Egoísta.

Triste é rimar amor e dor. Pior é guardá-los juntos no mesmo lugar, na frente do esconderijo um sorriso largo, uma alegria fugidia, uma lua minguante no rosto sincero. Triste é sentir o peso das mudanças, da desconfiança, da desesperança. Pior é ter medo. Tenho pena de quem tem medo e digo isso do alto da minha covardia. Triste é não sentir nada depois que a lágrima cai, é ficar vazio de pensamento, é só conseguir sentir frio no meio da madrugada. Desabar, pedaço por pedaço, cair, em desuso, em contradição, do décimo quinto andar. Triste é morrer quando ainda se tem muito para viver. Pior é perder o sentido das palavras. É ver o trio se tornar dupla desfalcada. É notar que os restos ainda marcam as paredes do lar, lá e cá, e estão impregnados de fluidos, rotinas, emoções, aprendizados. Triste é sentir que eu não sou do amor nem pro amor, que eu pareço nunca ter vez. É ouvir o eco da voz antes de dormir e constatar que o coração soluça, que a decisão não é madura, que o futuro, incerto, escorre pelos dedos. O pior de tudo, meus caros, é continuar rimando amor e dor nessa eterna valsa torta.

Sonido: O Amor É Um Rock - Tom Zé

segunda-feira, abril 09, 2007

Deixe-se Definir.

Uma conversa quase trivial no MSN gerou uma das mais bem humoradas definições do humilde escrevedor desse blog. Não é que a ferramenta "manuscrito", que eu sempre achei uma das coisas mais inúteis do MSN serviu pra alegrar uma noite dada por perdida. Calma, ninguém aqui andou fazendo filhos por aí (não agora), não vai ser submetido a teste de DNA nem se trata de alfinetadas para os mais descuidados.
Esse é mais um daqueles posts aparentemente vazios com o intuito de dizer que o complexo (no bom sentido da palavra) está nas coisas simples. Poucas palavra dizem muito.
Obrigado à menina de vestido rodado e cabelo encaracolado que me encanta, mesmo tendo uma visão meio equivocada, sintética demais, mas engraçada da minha pessoa.
Como diz ela: "É que o espaço era pequeno demais..."

Muitas telas pra você.


Sonido: Não Vá Se Perder Por Aí - Os Mutantes



domingo, março 25, 2007

Canto do Olho

Olhou-me no fundo dos olhos. Castanhos. Remelas no canto. Cama graaande, preguiça maior. Na vitrola, Água de Beber. Olhou-me com esquiva devoção. Um olhar acastanhado de medo. Também tenho medo, eu disse. Companheiros, mãos atadas contra o futuro. Ou a favor deste que agora nos preocupa. Tudo é dúvida, espera.
O futuro a mim pertence. Olhou-me continuamente, esperando resposta. Uma resposta castanha que dou todos os dias é o que eu queria tornar garantia. Meu olhar é garantia. No fundo dos olhos, que seja eterno enquanto dure. "Vinícius é que sabia"!

Naquela cama graaande, preguiça maior, hei de passar meus dias. Até que o brilho do olhar vire estrela, que brilhe como o castanho da vista .


sexta-feira, março 16, 2007

Descobri que abrigo tribos, vilas, cidades em mim. São péssimos inquilinos esses do meu terreno-corpo. Pagam-me o aluguel com constrangimento e frustração. Percebi tarde, muito tarde a presença deles, quando dei por mim havia sido grafado, em letras garrafais, com caligrafia-coceira: "Você Não Tem Nível!"

Haja amor, confiança e paciência pra aguentar a ressaca moral desse aniversário mal comemorado!
Estraguei a festa. Eu sou um chato!


quinta-feira, março 01, 2007

O "Escrevedor" de Cartas.

Ah, moço. Eu queria que você escrevesse que eu gosto muito dele. Eu amo ele demais. Quando ele sorri o mundo vira um, uma casa da avó. Ele, um molequinho lindo, esperando, na beira do forno, o biscoito ficar pronto. Quando ele sorri eu rio junto, sempre. Ele tem uns silêncios longos que me dizem tanta coisa, tanta coisa. Uns olhinhos assim miúdos em que cabem um mar sem fim. Eu sei na hora o que ele quer. Eu sempre soube. Adivinho. De pirraça é que, às vezes, não faço o que ele quer, só de pirraça. E enfrento mais silêncios graves, a boca num muxoxo surdo, o corpo todo se contendo. Mas eu me derreto, moço, é no abraço dele, aqueles dois brações cabeludos que me guardam inteirinha. Quando a boca quer me arrancar um pedaço, a barba dele roçando meu cangote. Aí eu viro os olhos, sambo pela casa inteira. Você gosta de samba, moço? Ele adora. Aprendi a gostar com ele, a dar valor. Sambo direto pra ele. Ele é que não gosta muito de sambar pra mim, diz que não sabe. Ah, num dia assim como esse, chovendo pra dedéu eu queria era mandar tudo às favas e ir deitar ao lado dele. Meu pretinho. Minha vida é com ele, moço, pode escrever aí. Quero passar o resto do tempo vendo aquela cara sorrir e chorar pra mim. Ele é meu homem. É meu. É.
E eu já não sei mais o que é que eu faço pra matar essa saudade danada. Escreve aí pra ele voltar.
Pede pra ele voltar, moço. Bota assim no final: "Eu te amo, assinado Maria". E coloca essa foto aqui, sim, essa que eu tô dando a língua, hahaha. Ele diz que gosta. Ai, ai.


Obrigado,moço. Quanto é?! Dois? Tá aqui, ó. Brigado.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Texto dos Outros II

Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!

[Encantação pelo Riso - Khlébnikov-Campos]

Gostei desse camarada. Rubem Fonseca sabe o que lê.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Realizar O Futuro É Agora.

Será legal quando as pessoas conseguirem atravessar a superfície e me entender mais profundo. Será bom quando a amizade voltar a ser mais nobre que esse apego antigo que distancia, distancia. O trabalho, o empenho, existirá, resistirá aos olhos cansados. Será maravilhoso quando tudo terminar em sorriso grave, em abraço, aperto de mão, beijo. Será ótimo quando cada um souber que seu lugar é em si mesmo e que o inferno são os outros. Bom quando perceberem que a influência obviamente existe, mas as atitudes ainda são regidas pelo livre-arbítrio. Todos loucos, como eu, como nós, será lindo. Um mundo, umas pessoas e todo o sentimento que há, pra viver aleatoriamente. Será bom, eu sei que será. Está sendo. Foi.

Sonido: Imunização Racional - Tim Maia

De Cima.

Eu sou aquele que vai andando, chutando latas pela avenida escurecendo agora, seis e pouco do dia, da noite. O sorriso escondido por camadas de frio e pensamentos incomuns, viagens incomuns. Eu sou aquele que você olha de longe, da sua janela ali no segundo andar, ali naquela avenida agora escurecendo. Eu sou o garoto mistério, noves fora, zero a zero, "queria conhecer você", diz ela. Aquele que olha pra cima agora sou eu, estupefato, olho no infinito do teu quarto, elevado, "desce". Do meu lado agora, seis e pouco da noite, somos eu ela, desconhecidos até o fim daquela rua, chutando latas, remoendo o asfalto, auto do que há por vir. Em vão?! Não. Ela é aquela garota que me olha todo dia, toda noite do alto daquela sua janela, vaso de flor, fita amarela, no cabelo a luz do pôr-do-sol. Eu sou aquele errante ponto de interrogação, passista passante, ermitão, meus passos no preto reluzente do asfalto, seis e pouco, diariamente.
Somos aqueles que conversam, que flertam, que têm nos olhos o brilho quase escurecendo do dia, da noite, do sonho acordando. Somos o novo, somos passo pro eterno, quase lá, chutando latas ali naquela avenida de sol e chuva.

- Você vem comigo?!
- Quem é você?!
- Eu só tenho essa garrafa e um doce no bolso do casaco.
- Fale a palavra.
- Pegue na minha mão.

Vamos logo. Amanhã, quase seis e meia do dia, da noite, chutando latas avenida abaixo serão vistos escurecendo agora, clareando as vistas.



*Ao Recife. Baseado em canção do Mopho.
Imagem: Alina Andrei .... http:/www.oureyes.net

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Texto dos Outros.

Certo dia, dentro de uma caixa escura, sentiram muito medo e prometeram que ficariam sempre juntos, para cuidar um do outro. Desde então, nunca mais deixaram de ser amigos. Nunca mais se separaram. Andaram por ruas e ruas, cidades e montanhas; conheceram a textura das pedras, das poças e folhas. Juntos enfrentaram tudo (até o cocô do cãozinho) e brincaram de roda na máquina de lavar...
Quanto mais velhos ficavam, mais conheciam os remendos do outro. E quanto mais conheciam, mais se soltavam. Soltaram a palmilha, o bico e a sola. Abriram fendas para entrar a água da chuva. Até que voaram, voaram tão alto... Presos no fio, de cadarços dados, brincavam de balanço. Rodavam lentos, um de cada vez, sem acreditar nas belezas do mundo. As belezas que só agora, como sapatos do vento, conseguiam enxergar...

[Presos no fio, calçados brincar de balançar - Rodrigo Sérvulo]

Dedicado a Denise Vilar, que me "iluminou" esse singelo texto. E a Homenzinho por me deixar publicá-lo.


segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Sem cela.

O fato é que, respeitadas as devidas proporções, a partir de hoje e durante as semanas que se seguem eu tenho que obedecer a um toque de recolher. Sentinelas me vigiam. Tenho agora supervisores, analistas, consultores sobre minha índole. Tenho que seguir normas, respeitar padrões, balizar minhas atitudes. Amordaçar-me, calar-me como de costume, com um pouco mais de intensidade e afinco. Tenho que ser modelo de ser humano. E serei, custe o esforço que custar.

Só não sei até quando...


*Estranhamente, sinto que vou acabar gostando.


segunda-feira, janeiro 29, 2007

Babilônia In My Mind.

Os neurônios, num último suspiro, explodiam jorrando idéias, fluxos e fluxos de idéias fluidas, pensamentos, divagações que passavam, lúcidas, cabeça adentro.
As veias, os olhos, pulavam como se quisessem extinguir o branco das vistas, o branco que se tornava arroseado, vermelho, rubro rubro sangue.
Na pele tudo, as carnes cheias, quentes, contraídas, relaxadas, o corpo-potência a mil por segundo.
Riso, sorriso, gargalhada. Arfar, arder, na garganta, pulmões, barriga. Sexo. Passarinho azul piando na janela.Passarinho azul sou eu. Devagar aqui, rápido ali, distraído, na santa paz, também se vai ao longe.

* A última vez que fomos à Babilônia, nossos braços atados, fizemos amor durante horas seguidas. As bocas eram ondas vermelhas. Éramos ondas vermelhas, eu e meu(s) amor(es). Éramos fumaça se esvaindo no ar, balé morno, espiral. A Babilônia é aqui. Suspendamo-nos nesses jardins, nos confins, nessa ausência plena de desconforto, nesse reino de sentidos e significados. Um abraço, amigo de longa data, volte logo que eu te espero lá, no nosso lugar, Babilônia!

* Ia bem com uma música do Nação Zumbi. E não reparem na viagem, apenas viajem...


segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mini Me.

Tatiana.
Ela entrou no trem. Trancaram-se as portas. Traíra o marido. "Trataaante!!!" Tchau, disse.

Coca-Cola mata.
- São onze e pouco. Vou indo.
- Espera, pô.
- Ah, deu vontade de um Doritos agora.
- Vamo ali na cigarreira?
- Vamo.

...

- São quase doze. E eu comendo Doritos.
- Quer sorvete?
- Qual o sabor?
- Napolitano.
- Hmm, eu quero.


Desodorante.
Ela já tinha 20 e ainda era virgem e aquilo pra ela era quase um martírio, mas não, não era tanto assim porque ela fazia curso de enfermagem numa cidade provinciana e atrasada do interior e grande parte das pessoas até encaravam aquilo como uma virtude, louvavam sua força diante das tentações sexuais e sua disciplina, trocava sempre as sondas dos velhinhos e virava a cara quando algum pau insistia em subir, tinha muitos amigos e gostava de beber moderadamente pra não se aproveitarem da sua embriaguez, cuidava do hímen com muito cuidado, exagerado até e um dia um amigo metido a escritor besta e barato disse que tempo era sexo e ela ficou chocada e desistiu de pagar um sorvete de flocos da Sorveteria Oásis pra ele. No outro dia, morreu atropelada por uma Mobylete descontrolada. Virgem. Coitada.

Vacas magras, vacas gordas
Maria era magra pra caralho. Magra de doer. Magra magra mesmo, esquelética. Tão bonita fora Maria. Acabou-se a coitada. "Ai, essa maçã me encheu!" Isso de o Brasil ser o campeão em cirurgias plásticas é realmente uma merda. "Maria, porra, vai tomar seu caldo de carne. Só um copinho, devagar." Mandei Maria ir se foder. 45 dias sem trepar, porra. Não tem quem aguente. Isso de o Brasil ser campeão em cirurgias com fins estéticos é realmente uma bosta. "Maria, vem tomar a injeção na barriga, tá na hora". "Maria, olha o curativo, caralho!" Me separei de Maria, mulher véia magra. 45 dias sem sexo é foda, companheiro. "Morra, Maria!" Isso de redução do estômago é realmente o fim da picada! Eu gosto é de carne, porra. De ter onde pegar.


Dudu, vai brincar, porra!
Mal chegou na sala, saíram. Mal chegou no quarto, saíram. Mal chegou no quintal, saíram. Mal bateu na porta do carro, aceleraram. "Porra, Dudu, vai brincar!"


*Não precisa dar opinião, ok?!

domingo, janeiro 21, 2007

Créditos.


Ouviu uma pancada seca no cômodo ao lado. "Droga, que susto!" No televisor, a morena de olhos puxados continuava tirando a roupa. "Nossa, que gostosa!" Os seios durinhos, o piercing no umbigo, a bunda carnuda foram levados embora por outra pancada, seguida de outro susto. O pênis ainda ereto, o telespectador se impacienta com a sucessão de barulhos em potencial que vêm do quarto do seu pai. A morena de olhos azuis puxados, cheia de languidez treme os lábios enquanto o negrão tatuado chupa sua boceta na televisão.
Outro susto. O membro ainda de pé, a frustração e a curiosidade no rosto do garoto interrompido. Ouvem-se os primeiros gemidos, agudos, da boca sensual da morena. As pancadas adquirem ritmo. Impaciência dá lugar a mais sustos. O volume baixo do televisor acompanha o andamento das pancadas do cômodo ao lado. "Que merda! O que está acontecendo?!"
O negrão vê a morena subir nele e faz cara de qualquer coisa. Decidido a descobrir o que o está atrapalhando na sua pornográfica empreitada o, até então, telespectador resolve acalmar os ânimos, concentrando-se num pôster do Iron Maiden na parede do seu quarto. A morena tenta seduzí-lo com seu olhar apertado, mas não obtém sucesso.
Já reestabelecido, agradecendo à eficácia da caveira heavy metal no processo brochativo, abre a porta e olha cuidadosamente para os dois lados. Enquanto ele caminha em silêncio pelo corredor escuro, o lascivo casal da TV continua a copular intensamente, sem ninguém para observá-los entre gemidos e palavrões. Balizado por paredes e pancadas, o curioso rapaz percebe que o barulho vem do quarto do seu pai, recém-separado.
O negrão põe a parceira de quatro e começa a introduzir seu avantajado equipamento no ânus da tesuda morena. Um ouvido colado à porta e o nosso ex-telespectador percebe risinhos, também agudos, entre as pancadas abafadas. "Paaaai!!!" Mais batidas na maciça porta de madeira. Os risinhos cessam e o ritmo das pancadas diminui. "Paaaaaai!!!!"
O apertado ânus da morena recebe o veemente membro acomodando-o com certa hospitalidade. As pancadas cessam de uma vez. " Já vooou!" Os olhos azuis apertados da morena estão fechados, não se sabe se de prazer ou desconforto. Depois de algum tempo, a maçaneta gira, abrindo a porta e pondo à mostra um homem careca, barrigudo, beirando os 50, enrolado numa toalha, bastante suado, o pai. Um esbaforido "O que foi?" sai da boca do homem.
A morena solta um gemido alto acompanhado pelo ritmado movimento de vai-e-vem do casal. Em frente ao pai, meio surpreso, pergunta quem está no quarto. "Ninguém!" Da porta entreaberta, o careca impaciente trata de persuadir o incoveniente filho de que está sozinho, está tudo bem. Mais uma vez se ouve um "Quem está aí?", dessa vez mais claro e decidido. A maciça porta se abre por inteiro.
O negrão retira o pênis de dentro da boca da morena e o posiciona rente ao rosto da fogosa. Esgueirando a vista para o fundo do quarto vê, na cama, uma mulher ajeitando o baby-doll preto de seda. A mão da morena masturba o seu parceiro na televisão do quarto ao lado.
A moça de baby-doll olha para o garoto e se apresenta de longe. Um aceno tímido e um "Oi, eu sou a Cláudia, namorada do seu pai." Do lado de fora, em frente ao careca de toalha, a surpresa toma o lugar da recente preocupação. Os olhos azuis e apertados da morena Cláudia fazem o queixo do indiscreto rapaz cair.
A morena recebe no rosto o abundante e espesso líquido branco, enquanto um longo gemido sai da boca daquele que ejacula. "Fim." Na tela do televisor sobem os pouco extensos créditos da produção cinematográfica.


Imagem: Ewa Brzozowska .... http://www.oureyes.net

Sonido: Cinco Contra Um - Mustang

Meu blog anda recebendo visitas e comentários muito "calientes". Para não sair do tom, um conto não menos "caliente", dedicado para a "the most caliente of all" Luciana. Façam bom proveito, mas, por favor, não sujem o teclado, crianças!

Ah, e ser anônimo não está com nada. Mostrar a cara é a última moda, dizem por aí.

sábado, janeiro 13, 2007

"É Melhor Ser e Não Parecer, do Que Parecer e Não Ser."

Haja acidez pra fazê-la sorrir. Haja dicionário pra surrar. Haja conversa pra poder dormir. Haja roupa pra comprar. Haja sushi pra comer. Haja sorriso pra externar. Haja luz pra se distrair. Haja texto pra ignorar e calar, e calar. Haja ensaio pra não atuar. Haja vaidade aturar. Haja assunto para vazar, e escorrer, escorrer. Haja internas para criar. Haja palavra pra esconder. Haja roupa pra comprar. Haja vista para esses dois sentados ali na mesa do lugar.

Esses dois. O que escondem esses dois? Escondem o que há de mais valioso e perene no tempo que já passou e na vida que há por vir.

Três bombons caros numa embalagem só e um abraço do tamanho de um sushi frito com molho shoyu roubado p/ você!
Um texto clichê, cheio de palavras repetidas, mas sem surras de dicionário, humilde e espontâneo como todo texto deve ser.

E que venham muitas tardes animadas depois de entrevistas de emprego bem-sucedidas. Eu curo angústias, hehehehe...

Natal, 13/01/2007 - 23:12h.
Vítor de Azevedo Silva.