quinta-feira, outubro 25, 2007

Texto dos Outros III


" (...) Parece-me que, quando era mulher, zombava muito daqueles que me atribuíam idéias ponderadas, enquanto somente o momento me fazia tê-las, que procuravam razões onde eu tomara leis unicamente do capricho e que, por querer me aprofundar demais, nunca entravam em mim. Era verdadeira no tempo em que passava por falsa; acreditavam que eu era galante no instante em que era terna; era sensível e imaginavam que era indiferente. Quase sempre me atribuíam um caráter que não era o meu ou que acabava de deixar de sê-lo. As pessoas interessadas em me conhecer o máximo, com quem eu dissimulava o mínimo, às quais mesmo, levada por minha indiscrição natural ou pela violência dos meus ímpetos, eu revelava os segredos mais íntimos da minha vida ou os sentimentos mais verdadeiros do meu coração, não eram aquelas que mais acreditavam em mim ou que me compreendiam melhor; elas somente queriam me julgar segundo o plano que tinham feito, enganavam-se continuamente e acreditavam ter me conhecido bem, quando tinham me definido segundo a sua vontade. "

*Amanzei conta a Schah-Baham como se sentia quando o deus Brama quis que ele ocupasse o corpo de uma mulher.
Retirado do livro "O Sofá" de Crébillon Fils.

A alma feminina tem caminhos labirínticos.


terça-feira, outubro 16, 2007

Ando parado naquela música que me fez lembrar você, vidrado na frente da tevê. Esperando ligações, cartões postais, um e-mail que seja, seu coração no pombo-correio. Pra mim, só. Ando dormindo à luz dos nossos momentos, sua roupa no sofá, ensaboar seu corpo, sua alma, massagear seu ego com mãos fortes de amante, seu sorriso. O tempo não é mais meu amigo. A novela perdeu o sentido. A cama fica dura, a casa, vazia. O dia fica sem graça. Até a cachaça perde o efeito. 3 margueritas? Nenhuma. Ando calado por não ter muito o que falar, esses dias. Ando meio desligado, mas por outro lado. Eu ando pensando em mil e uma coisas pra te dizer no ouvido. Beijar seu rosto, sentir cheiros. Brincar nos seus cabelos enquanto você sonha. Ando um pouco dolorido, pois é, dessa saudade que não me deixa. Mas ando sempre com aquela música que me faz lembrar você. Aquela mesma de quando tivermos 64 anos. Paul é que sabia.

Volte um dia.